Terceira Idade com Qualidade

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Nas últimas décadas, especialmente neste século XXI, constata-se envelhecimento da população e diminuição da parcela jovem. O Censo 2022 do IBGE mostra que o Brasil atingiu envelhecimento recorde: 22,2 milhões de habitantes com 65 anos ou mais. Em 1930, a expectativa de vida era de apenas 37,3 anos e, hoje, a média para homens é 73,6 anos e mulheres 80,5 anos. Isso se deve à melhoria das condições de vida, à expansão do sistema sanitário, ao conhecimento da alimentação, à diminuição da taxa de natalidade e, também, ao notável avanço da medicina.

Não basta prolongar a vida. O fato de podermos viver mais não traduz realmente a situação do idoso (no Brasil, pessoas com idade superior a 60 anos). Todos gostariam de viver com qualidade, desfrutando este período com plenas atividades, embora limitadas pelas condições naturais que a idade impõe. Todavia, ainda nos dias atuais, com tantas conquistas a respeito dos diversos direitos humanos (Estatuto do Idoso, da Criança, leis, datas comemorativas, etc.), o ordenamento econômico, o mercado, o poder público e a sociedade em geral privilegiam a juventude, exaltando-a com a noção de possuir um fim em si mesma e idealizando-lhe uma vida sem limites.
Em contrapartida, a velhice ainda é majoritariamente tratada como uma etapa sinal da vida, sem contribuições especiais a oferecer e, especialmente, com uma condição de vida que parece ser sem sentido ou motivação. O desenvolvimento urbano não percebe as necessidades das pessoas mais velhas: prédios sem geradores e sobrados com escadas íngremes, cidades planejadas sem espaços para lazer e entretenimento, planos de saúde oferecidos a preços impraticáveis.

É preciso valorizar a velhice. O que parecia ser um progresso vem se tornando um problema político, social e econômico, que precisa ser enfrentado com um esforço conjunto por autoridades governamentais, entidades sociais, organizações da sociedade civil, educadores, empresários e principalmente famílias, de forma a superar a prática do assistencialismo direto insatisfatório, em favor de uma política de Estado que valorize a velhice e lhe garanta políticas de assistência e proteção social.

Por meio do exercício do trabalho, as pessoas contribuem para o desenvolvimento da sociedade e encontram oportunidades de afirmar sua eminente dignidade humana e, assim, se realizar integralmente. A falta de oportunidade de contribuir com seu trabalho torna a pessoa idosa vítima de uma cultura de descarte, que a assombra com a percepção de inutilidade, perda de importância na comunidade, esvaziamento da vida e medo do isolamento e indiferença, enquanto espera pela morte certa.

Assim, não é estranho que a vulnerabilidade da pessoa idosa seja indesejada para ela mesma, tentando superá-la com atitudes cosméticas, ao invés de prezar a maturidade e sabedoria amealhadas com o longo passar dos anos.

Respeitar e cuidar, por si e por toda a sociedade.

Cabe à pessoa idosa o respeito reverente da comunidade, acolhendo e honrando as qualidades de seus vários dons. As pessoas devem dar-se conta que a sabedoria dos anciãos ensina à humanidade o caminho para a transcendência e a eternidade, superando a cultura da indiferença e do descarte e cada um, por si, aderir a uma cultura do cuidado para com o outro e por toda a sociedade. Esse cuidado estimula, com solicitude, o diálogo, a hospitalidade e o reconhecimento e respeito pela história de vida do outro. Esse cuidado não subsiste na supremacia de alguns, que poderiam oferecer uma esmola, mas na partilha fraterna entre irmãos e irmãs. Aí prevalece a solidariedade que, conforme enunciou o Papa João Paulo II, exprime-se como atitude moral e social pela “determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum; ou seja, pelo bem de todos e de cada um, porque todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todos”.

A solidariedade preza dar alegria à pessoa idosa e favorece o conhecimento de seu valor humano essencial, muito além das estatísticas ou como um recurso produtivo descartável, que quando se tornasse inservível, poderia ser abandonada à própria sorte.